Como é feito o diagnóstico da APLV? Entenda as etapas!

A Alergia à Proteína do Leite de Vaca pode ser um grande desafio para muitas famílias. Conheça as etapas essenciais para um diagnóstico assertivo. 

A Alergia à Proteína do Leite de Vaca pode ser um grande desafio para muitas famílias. Conheça as etapas essenciais para um diagnóstico assertivo. 

Diagnóstico da APLV: entenda cada etapa para o diagnóstico

A alergia alimentar é definida como uma resposta incomum do sistema imunológico a um determinado alimento. A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) se destaca como uma das mais comuns nos primeiros anos de vida. 

A APLV acomete de 1,9% a 4,9% das crianças até os 12 no mundo, sendo caracterizada pela reação do sistema imunológico às proteínas caseína e às proteínas do soro do leite (alfa-lactoalbumina e betalactoglobulina).

O bebê com APLV pode apresentar sintomas que afetam a pele, o sistema digestivo e/ou respiratório. Esses sintomas podem ocorrer de imediato ou demorar até duas semanas para se manifestarem, sendo denominados pelas categorias: imediatos, tardios ou mistos. 

Um diagnóstico de APLV assertivo é fundamental para a saúde e para o tratamento adequado. Lembre-se sempre de consultar seu médico para um diagnóstico e tratamento precisos. 

 

A importância de um diagnóstico preciso

A identificação da APLV é importante pois, sem o diagnóstico adequado, há um risco elevado de subtratamento (tratamento clínico insuficiente). O reconhecimento correto da condição permite que a criança receba uma dieta adequada, apoiando assim seu crescimento e desenvolvimento saudáveis.  

Um bebê com APLV pode ter sintomas sempre que entrar em contato com o leite de vaca, incluindo: 

 

  • Sintomas digestivos: refluxo gastroesofágico, náuseas, vômitos e diarreia; 
  • Sintomas cutâneos: dermatite atópica e urticária, como manchas vermelhas, coceira e inchaço; 
  • Sintomas respiratórios: congestão nasal, dificuldade para respirar e tosse crônica. 

 

Existem outros sintomas relacionados e o maior risco envolve a anafilaxia. Esta condição é uma reação de hipersensibilidade aguda, grave e potencialmente fatal, com início rápido e associada a outros sintomas, incluindo queda na pressão e fraqueza muscular logo após o contato com o leite de vaca. 

 

Entendendo as etapas do diagnóstico da APLV

O diagnóstico de APLV não é simples, pois não há um teste único ou combinação de exames que a definam com exatidão. Além disso, não existe um sintoma que seja exclusivo dessa condição, o que aumenta a dificuldade de diferenciá-la de outros quadros. Por isso, é preciso seguir algumas etapas. Entenda o passo a passo! 

 

1. Suspeita clínica

A base do diagnóstico de APLV baseia-se principalmente na avaliação do histórico de sintomas e no exame físico feito em consulta médica. Por isso, na consulta é importante detalhar o aparecimento dos sintomas, quando costumam ocorrer e a intensidade.  

A investigação da história clínica de crianças com suspeita de APLV deve ser minuciosa e o profissional de saúde deverá verificar o histórico familiar de alergia alimentar, além de fatores como: 

 

  • Tempo de amamentação exclusiva e continuada; 
  • Ingestão da mãe de alimentos à base de leite de vaca; 
  • Histórico de alimentação/introdução alimentar; 
  • Outros alimentos consumidos; 
  • Tratamentos dietéticos anteriores (dietas já realizadas). 

 

Também deve ser relatada uma descrição detalhada dos tipos de sintomas apresentados pelo bebê, assim como o tempo entre a ingestão do alimento e o tempo de aparecimento desses sintomas. 

Quanto mais informações forem fornecidas ao médico, mais precisamente ele conseguirá realizar o diagnóstico. Por isso, é importante ter informações sobre o alimento ou preparação culinária que supostamente causaram os sintomas e a quantidade necessária de alimento contendo leite de vaca ou derivados para provocar os sintomas. 

Crianças com APLV podem apresentar ampla variedade de sintomas comuns a outras doenças e condições fisiológicas naturais, como cólicas e refluxo. Assim, é preciso relacionar o sintoma com a ingestão do alimento e avaliar o tempo até o desencadeamento. 

 

2. Dieta de exclusão: etapa fundamental para o diagnóstico 

Se os sintomas forem sugestivos de APLV, o médico irá recomendar a dieta de exclusão, um passo importante para diagnosticar APLV.  

Nessa etapa, a proteína do leite de vaca é removida da dieta da criança - ou da mãe, se o bebê for amamentado exclusivamente - por um determinado período e depois reintroduzida. Se o seu bebê tiver alergia à proteína do leite da vaca, os sintomas desaparecerão durante o período de eliminação e depois voltarão quando o alimento for reintroduzido.  

O que é feito nesse período de dieta de exclusão é observar se há desaparecimento dos sintomas em até 30 dias. Alguns sintomas apresentam desaparecimento rápido (urticária, vômitos) enquanto outros desaparecem lentamente (sangramento intestinal, sintomas de má absorção intestinal e dermatite atópica). 

Se os sintomas não melhorarem após a dieta de exclusão, isso elimina o diagnóstico de APLV, devendo ser feita uma avaliação mais aprofundada para avaliar o paciente6

 

3. Teste de provocação oral na APLV 

O teste de provocação oral é a última etapa para o diagnóstico da alergia à proteína do leite de vaca. Geralmente é realizado de 2 a 4 semanas após o início da dieta de exclusão.

Um teste de provocação oral padronizado, realizado sob supervisão médica, é necessário na maioria dos casos para confirmar uma reação adversa à proteína do leite da vaca. Ele envolve a oferta de alimentos que devem conter leite ou derivados para analisar a reação. 

 

4. Confirmação (ou não) do diagnóstico

Se os sintomas reaparecerem após a reintrodução do leite: APLV confirmada. Se não houver reação, é provável que a criança não seja alérgica ou que já tenha superado a alergia.

Importante: o diagnóstico só deve ser realizado por um médico e/ou especialista.

 

Diagnóstico diferencial com outras possíveis doenças

Devido a uma grande variedade de sintomas que podem ser causados ​​pela alergia à proteína do leite de vaca, o diagnóstico diferencial pode ser extenso e incluir, mas não se limitar a:  

  • Outras alergias alimentares; 
  • Doença celíaca; 
  • Enteropatia; 
  • Infecções gastrointestinais; 
  • Enterocolite; 
  • Doença inflamatória intestinal; 
  • Divertículo de Meckel; 
  • Angioedema; 
  • Intolerância à lactose; 
  • Urticária idiopática; 
  • Anafilaxia. 

 

Exames complementares

Os exames primários, se usados, incluem um teste cutâneo de puntura e um de IgE sérico específico de sangue. Ambos os testes apresentam alta sensibilidade, mas baixa especificidade (ou seja, a sensibilização não se relaciona bem com um tipo de alergia), podendo ser positivos em indivíduos não alérgicos. Entenda cada um: 

 

  • IgE sérico específico para alergia à proteína do leite de vaca: esse exame de sangue pode ajudar no diagnóstico de alergia ao leite de vaca mediada por IgE (caracterizada pelos sintomas imediatos), sendo definido por um médico alergista; 
  • teste cutâneo de puntura: também ajuda no diagnóstico de APLV “imediata” e deve ser realizado por um especialista em alergia. Pode ser útil como apoio na avaliação de gravidade ou no diagnóstico diferencial da APLV, apesar de raramente indicado. Esse teste é feito por meio de pequenos furos na pele onde são colocados agentes alergênicos para checar como o corpo reagirá. Após 15 ou 20 minutos, se houver reação alérgica imediata, a pele desenvolve pápulas, pequenos caroços que lembram picadas de mosquito. 

    

Este é um material educativo sobre APLV. Proibida reprodução total e/ou parcial. Maio/2025.

 

Referências 

 

1. Guia de diagnóstico e tratamento da APLV Alergia à Proteína do Leite de Vaca. Disponível em: https://alergiausp.com.br/wp-content/uploads/2023/04/6421cfdec72fa.pdf. Acesso em 23 de novembro de 2023. 

2. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Alergia à Proteína do Leite de Vaca. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/consultas/relatorios/2022/20220427_pcdt_aplv_cp_24.pdf. Acesso em 23 de novembro de 2023.  

3. Koletzko S., Niggemann B., Arato A. et al. Diagnostic Approach and Management of Cow's-Milk Protein Allergy in Infants and Children ESPGHAN GI Committee Practical Guidelines. Disponível em: https://journals.lww.com/jpgn/fulltext/2012/08000/diagnostic_approach_and_management_of_cow_s_milk.28.aspx. Acesso em 23 de novembro de 2023.  

4. Sociedade Brasileira de Pediatria. Alergia ao leite de vaca. Disponível em: https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/doencas/alergia-ao-leite-de-vaca/. Acesso em 23 de novembro de 2023.  

5. Vandenplas Y., Brueton M., Dupont C. et al. Guidelines for the diagnosis and management of cow's milk protein allergy in infants. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2083222/. Acesso em 23 de novembro de 2023.  

6. Edwards C., Younus M.. Cow Milk Allergy. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK542243/. Acesso em 23 de novembro de 2023.  

7. Universidad de Navarra. Diagnóstico diferencial. Disponível em: https://www.cun.es/diccionario-medico/terminos/diagnostico-diferencial. Acesso em 23 de novembro de 2023.  

8. Instituto IMEPE. O que é o Prick Test e como funciona o exame para detectar alergias. Disponível em: https://institutoimepe.com.br/o-que-e-o-prick-test-e-como-funciona-o-exame-para-detectar-alergias. Acesso em 23 de novembro de 2023. 

9. WebMD. Could My Infant Have Cows’ Milk Allergy?. Disponível em: 

https://www.webmd.com/parenting/baby/baby-cow-milk-allergy. Acesso em 23 de novembro de 2023.  

10. Solé D., Silva L.R., Cocco R.R. et al.. Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 - Parte 1 - Etiopatogenia, clínica e diagnóstico. Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Disponível em: http://aaai-asbai.org.br/detalhe_artigo.asp?id=851. Acesso em 23 de novembro de 2023.  

11. Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia e Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição. Disponível em: http://aaai-asbai.org.br/imageBank/pdf/v35n6a03.pdf. Acesso em 23 de novembro de 2023.  

12. Atualização em Alergia Alimentar 2025: posicionamento conjunto da ASBAI e SBP – de Oliveira LCL, et al. Arq Asma Alerg Imunol – Vol. 9, N° 1, 2025

 

 

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